"Caro Sr. Luso/Espanhol
Devo dizer que o seu comentário foi a primeira coisa com que me deparei ao aceder ao forum do site do programa, o que confesso francamente foi um maravilhoso engano. As discussões que se geraram em torno da figura de Salazar foram deveras um deleite hilariante para a minha tarde mal humorada. Parece-me que o senhor fala em origens, das nossas origens castelhanhas presumo e do tormento em que todos nós entrámos desde que delas nos afastámos, mas lembrar-se-á certamente, se recuar um pouco no tempo, de outras ``origens`` mais remotas que por cá passaram, dominaram, ficaram e foram progressivamente escorraçadas: ora mouros, visigodos, romanos ou cartagineses todos por cá se passearam e misturaram alegremente. O que não somos pois nós e os espanhóis senão uma fusão de todas essas gentes interessantes e outras mais. Um outro ponto do seu discursos prende-se com os célebres Descobrimentos e com o Sr.Camões. Em relação aos primeiros afirma que nao passaram de actos de pirataria. Em parte tem razão. Conquistar terras que não nos pertencem e tentar pela força transformar e converter o seu povo em algo que não é (quer sejam mouros ou povos de outras terras africanas ou ainda de outros continentes) não é algo de que me orgulhe. Mas não podemos olhar para os Descobrimentos somente através das terras que os seus intervenientes e impulsionadores conquistaram. Há que olhar para a coragem, para a iniciativa, para o imenso espirito que os portugueses da altura revelaram ao empreender em tal demanda, rasgando e abrindo caminho por mares e terras desconhecidas, desenhando um mundo novo através dos imensos progressos técnicos a nivel da navegação e da cartografia que possuiam na época. E isso sim já é motivo do meu orgulho. Além do mais não nos devemos esquecer que os nossos vizinhos espanhóis de quem fala com tanta exaltação, seguindo os mesmos passos dos portugueses, desbravaram, conquistaram e pilharam. É graças a eles que a história da civilização azteca não teve mais longa duração. Mas lá chegaremos. Quanto a Camões e se era aio, dormiu com a rainha ou não isso a mim sinceramente não me diz nada. Por mim meu caro sr. ele até poderia ter dormido com a corte inteira e lá por ter morrido miserável como um escravo isso não lhe retira a sua genialidade. Também Sócrates morreu envenenado e condenado pelos seus e não significa que fosse culpado. A maioria dos génios só o é depois de morto. E é então diz o senhor, nesta altura, é agora precisamente quando o país precisa mais de nós que nos deveremos virar para as nossas verdadeiras ``origens`` e abraçar-mos a nossa nacionalidade espanhola. Porque Espanha é um país com futuro. E se não fosse meu caro senhor? E se fosse ao contrário? Faria o mesmo discurso exaltado e ``patriótico``, falaria com tanto desvelo e com tanto amor dos feitos espanhóis escarnecendo dos nossos? Será que faria? É verdade, tem razão quando diz que o chico-espertismo abunda dentro das nossas fronteiras, é verdade que a corrupção transborda entre os nossos. Mas também é verdade que o que eu vejo é um Portugal impávido e sereno á espera da invasão dos espanhóis, queixando-se da mediocridade do nosso povo e dos nosso governantes. E é assim que eu também o vejo meu senhor. Impávido, sereno e medíocre. Porque esse que escolhe é o caminho mais fácil, é esperar que os outros venham e tomem conta de nós porque nós não nos conseguimos levantar sozinhos. E se subitamente uma terrível crise se abater sobre o território espanhol? Aí quais serão as nossas origens? Inglesas, finlandesas, tibetanas? Para quê lutar se temos quem lute por nós?Se os que vos governam sao corruptos entao não os coroem! Se estão descontentes então manifestem-se,unam-se, lutem! A história de um país e de uma nação minhas gentes não se faz só de glórias e de luminosidade. A história de um país e de uma nação faz-se também de guerras, de lutas, de insatisfação, de dores e de sofrimentos. E se as vergonhas se sobrepõem aos orgulhos é mais uma razao para lutar-mos por eles, por serem tão raros, tão desconhecidos e tão distantes. É mais uma razão para lutar-mos por aquilo que somos, pela nossa identidade e por toda a liberdade de espírito que algum dia possamos atingir. Peço desculpa a todos aqueles que lerem este texto pelos possíveis erros ortográficos. A arte dos acentos principalmente, é coisa que não domino. "
Esclarecidíssimo comentário, em jeito de resposta, de Isa PX, 14-10-2006
(e acabei de ter um DéJavu...)
9 de dezembro de 2006
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