Peço desculpa ao Prof. José Hermano Saraiva pelo roubo e usufruto da sua expressão, mas fica o esclarecimento do copyright.
Serve o título para introduzir o seguinte tema lodoso - a política e as eleições, especificamente as presentes Legislativas de 2009.
Costuma-se dizer que o “o povo” não é parvo; infelizmente, isto não passa de mais uma promessa eleitoral - das que ficam eternamente por cumprir.
“O povo” – estas palavras, no início de qualquer frase, já deixam adivinhar que algo não muito bom vem aí. Quando usada em comícios eleitorais, então é péssimo.
É um conceito, que, tal como o Pai Natal, não existe verdadeiramente; mas em nome dos quais se ofertam pequenos brindes ou electrodomésticos (tradição de Gondomar), e se formulam votos de felicidade e de prosperidade, que nunca duram para além da semana das festividades/eleições.
Diz-se também, que o poder emana do Povo, que o delega numa minoria eleita pelo povo. Só que, essa minoria, raramente é composta por pessoas provenientes do chamado povo. Já explico.
O Povo, com letra maiúscula, não é o mesmo povo, com minúscula.
Com maiúscula, referimos-nos à entidade mítica e glorificada que representa o melhor da nação; a sua alma, pujança e cultura.
Com minúscula, referimos-nos à classe popular mais baixa e proletária. No entanto, esta massa rude e despriveligiada, é a maioria. Não obstante serem mais numerosos e mais fortes, sujeitam-se a ser desgovernados por uma minoria que se diz do "povo", mas é acima de tudo uma elite que despreza as massas.
Essas elites, quanto mais próximas originariamente do povo, mais o oprimem. É o exemplo dos regimes comunistas ditos "populares"; ou das Monarquias que foram derrubadas por Repúblicas que instituíram regimes fascistas.
Passado o tempo dos regimes ostensivamente opressivos (pelo menos na Europa), as elites tiveram que encontrar outras formas de controlar as massas e a sua tendência anárquica.
Esse controle é feito pela informação/desinformação; recompensa/punição, em todos os domínios da actividade individual.
O controlo da informação/desinformação, já herdado do passado, é cada vez mais difícil por causa da Internet. Cada um, desde que tenha uma ligação à mesma e motivação, pode procurar por si informação em fontes, digamos, não governamentais.
O nível da Educação - ou a falta de - e o seu conteúdo, condiciona e de que maneira o pensamento.
Embora as crianças aprendam cada vez mais depressa e mais cedo, sabem cada vez menos e actuam cada vez mais irresponsavelmente.
Assim, temos em Portugal, especificamente, várias gerações com défice de pensamento lógico e crítico. Umas por serem de outros tempos, logo com pouco ou nenhum acesso à educação; outras porque os tempos modernos as conduzem à alienação.
Um povo ignorante e embrutecido é sempre mais fácil de controlar e conduzir.
Quando temos campanhas políticas e candidatos com pouco nível, por um lado, e eleitores que mal conseguem pronunciar o nome do 1º Ministro, por outro, fica claro que não se pode esperar uma atitude racional do eleitorado. O mesmo em termos de transparência e honestidade - nisto, os populares competem taco a taco com os políticos, embora numa divisão inferior...
O emocional terá sempre uma palavra a dizer, claro; mas quando se sobrepõe ao racional, isso é sempre preocupante.
Quando se questiona como muitos alemães foram na conversa de Hitler, acaba-se sempre a falar do irracional que toma conta das massas, que voluntariamente ou involuntariamente, suspendem o seu lado racional e são levadas pelo emocional.
As poucas e tímidas opiniões racionais que escutei de populares (apenas duas) durante a presente campanha, significam que ainda assim, há uma pequena minoria que consegue unir o racional e o emocional equilibradamente, e formular uma opinião lógica e ponderada.
O que foi dito, e que eu subscrevo, é que as forças políticas, em vez de divergir por questiúnculas pessoais ou ideológicas, deveriam se unir em prol de Portugal. Brilhante, embora algo utópico em tempo de paz. Então logo em Portugal, em que as pessoas se dividem visceralmente por tudo e nada...
Espanha, um país muito menos homogéneo que Portugal, apresenta contudo uma maior coesão e racionalidade que em Portugal. Isso só se pode entender no sentido em que a Instituição Real serve de factor agregador e estabilizador de todos os sectores dentro de Espanha. Isso é ainda mais visível quando se percebe que os que se dizem republicanos espanhóis, estão esmagadoramente nas regiões de maior pendor independentista (Catalunha, Pais Basco, etc).
Este poder moderador Real, o único verdadeiramente imune a interesses alheios, liga os cidadãos e o poder não só pela vertente emocional, mas pela racionalidade que advém de um cargo que exerce uma vigilância independente e democrática constante, e que não é perturbadora do equilíbrio do poder, como acontece neste momento em Portugal (alegadas escutas em Belém) ou aconteceu anteriormente (Sampaio-Santana), etc.
Espanha e Portugal têm realmente mais que uma proximidade geográfica; têm também uma interrelação histórica, que andou passo a passo durante muito tempo; porém, divergiram em meados dos anos 70, altura em Espanha enveredou por uma restauração da Monarquia, e Portugal, bem, continua sem rumo, a pedir mais do mesmo, a seguir políticos bem falantes e partidarismos ocos, sem memória de onde vem nem para onde vai.
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