Para que não restem dúvidas, já fui apelidado de "comunista" e "reaccionário", no mesmo minuto do mesmo dia, aos vinte e poucos anos, no princípio da década passada. Confesso que na altura, dentro de uma viatura com 2 desconhecidos, algures em Espanha, fiquei meio perplexo com o energúmeno que vociferou tão imbecil anátema – eu desconhecia por completo o significado de "reaccionário"; e pelos vistos, o imbecil também.
Das muitas coisas ridículas e hediondas que registei, infelizmente, durante a minha vida, esta há-de sempre recordar-me que opinar com independência sobre o que, a nosso ver, está mal e poderia ser mudado, aflige quase sempre os mais velhos, os menos esclarecidos e os mais instalados. E o pior, é que nem falava, nem falei, de algo remotamente perceptivel como política, durante toda viagem…
Era já, no entanto, o meu “direito à indignação” e a falar livremente, com toda a sinceridade da juventude não-filiada. Agora, na meia-idade, continuo a expressar a minha indignação e inconformismo, apelando a outros que se manifestem também.
Portugal é dos países (dos 8) que eu conheço, onde as pessoas são menos espontâneas. Desde cedo, as crianças são constrangidas a prestar atenção ao que dizem e expostas ao ridículo por arriscarem serem autênticas. Pelo menos foram, nas gerações logo pós-abril, o que até fazia algum sentido, ou talvez não; mas receio que ainda se note muito, por aí…
Bem, isto tudo para chamar a atenção para o factor mais preponderante de tudo o que disse aqui, sendo que a palavra-chave é: Espanha. Sim, a nuestra vicina, que ultimamente nos serve de comparação para tudo, com evidente prejuízo próprio.
Eu ainda sou dos que continuo a acreditar nas vantagens de ser Português (o que é diferente de continuar a desejar trabalhar e viver em Portugal…), mas admito que poderíamos beneficiar imenso, no estado actual, se em vez deste país deprimente, fossemos (oficialmente) a região autónoma de Espanha mais pobre – mais uma vez, a palavra-chave é Espanha…
Antes de me começarem a chamar nomes piores que “comuna-reaccionário”, quero ressalvar que há muita coisa melhor em Portugal do que em Espanha – o peixe, o vinho, as cebolas, os filmes com legendas, etc. etc. - e especialmente não haver necessidade de ter aqueles pontos de interrogação e exclamação ridículos, de pernas para o ar no inicio das frases… ¿comprende?
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